Destaques

Resenha Os anjos do tempo, Kevin J. Anderson & Neil Peart


"A ignorância é uma verdadeira benção, mas ele não acreditava naquilo. A ignorância lhe causara muitos problemas. Se ele tivesse as informações corretas, jamais teria cometido tantos erros. Para começo de conversa, ele não teria empreendido aquela árdua jornada. Por outro lado, ele nunca teria se tornado quem era. Tudo tem seu motivo".

SOBRE O LIVRO
No mundo do jovem Owen Hardy, tudo tem sua hora para acontecer. Ele vive em uma sociedade aparentemente perfeita, graças à administração precisa do Relojoeiro. A vida segue um roteiro cuidadosamente planejado para que nada afete a estabilidade conquistada depois de anos de guerras. Até o dia em que, pela primeira vez, um imprevisto acontece e Owen se vê abandonando sua terra natal para viver uma grande – e imprevisível – aventura, entre civilizações perdidas, piratas, anarquistas e alquimistas. Os Anjos do Tempo é uma história de ficção científica escrita pelo mestre do gênero steampunk Kevin J. Anderson, inspirada nas músicas da lendária banda de rock Rush, em parceria com o compositor e baterista Neil Peart. Uma fábula “nostálgica, estranha e encantadora”, ilustrada pelo premiado designer Hugh Syme, sobre a beleza que há na luta entre a ordem e o caos, entre a realidade e o sonho.

MINHAS IMPRESSÕES
Me interessei por esse livro quando soube que ele foi baseado nas letras do álbum Clockwork Angels da banda de rock progressivo Rush, escritas pelo baterista Neil Peart. Para quem não sabe, Neil Peart é o compositor da banda e suas letras são lindas e cheias de significados. Não esperaria menos de um leitor voraz! Neil Peart, assim como nós, devora livros e mais livros. Por isso eu não poderia deixar de conhecer obra que foi uma experiência MARAVILHOSA.
Os anjos do tempo é uma ficção científica, mais especificamente, uma obra de Steampunk "futurista", deixei entre aspas a palavra futurista, porque é um futuro alternativo. Outra característica marcante é o fato de termos um mundo utópico que possui um governo opressivo. Contraditório, não? Pois é, mas foi a melhor definição que encontrei.
A história começa com o protagonista Owen Hardy, um jovem que nasceu e cresceu em Albion, um lugar que é controlado pelo Relojoeiro e que vive a estabilidade. Em Albion tudo é previsível, não existem conflitos e nem inseguranças. Todos sabem o que irá acontecer, todos sabem o que serão e o que devem fazer. Não existem surpresas. Tudo é pré-determinado e, segundo eles, tudo tem o seu motivo.
O jovem Owen Hardy acredita e defende a estabilidade proporcionada pelo Relojoeiro. Ele é assistente do gerente de um pomar, mora com seu pai e irá se casar. Seu futuro está traçado e, apesar de seu desejo por aventuras, ele aceita o que o Relojoeiro determinou para ele. Prestes a completar 17 anos,  o jovem está ansioso para começar sua vida adulta ao lado de seu verdadeiro amor, Lavínia, que lhe foi apontada pelo Relojoeiro. Porém, antes desse marco tão importante, ele quer um vislumbre de aventura, por isso convida a sua futura esposa para um encontro clandestino. As coisas não saem como o jovem esperava e ele acaba fazendo algo inimaginável: quebra as regras que determinavam o seu futuro e parte em uma aventura que irá mudá-lo para sempre.

Eu não costumo fazer resenhas contando muito do enredo, pois acredito que a sinopse revela o bastante e as minhas impressões devem conter meus sentimentos e percepções da leitura. Porém, esse livro é uma exceção, então achei necessária uma melhor ambientação.
A obra inteira é uma reflexão sociológica. Temos dois polos em conflito: A estabilidade e o caos, esse último representado pela figura do Anarquista. Esses dois extremos se chocam e ambos possuem argumentos muito lógicos. O mais interessante nesse embate, é que o autor nos mostra que, apesar de se odiarem, um não vive sem o outro, pois sem o caos não há porque defender a estabilidade e sem a estabilidade não há porque defender o caos. Todos os argumentos para defender um e outro se baseiam nos aspectos negativos do inimigo.
"A estabilidade, apesar de destruir o livre arbítrio, é necessária, pois no caos não há regras, o que resulta em assassinatos, roubos e barbáries."
"A estabilidade destrói a essência do ser humano, pois tudo o que ele faz é robotizado e premeditado. O caos é a única forma de liberdade existente, sem leis, sem estado, sem ordem."
Essa é a ideia central do livro, qual dos dois lados tem razão? A liberdade extrema ou a ordem extrema? A obra me remeteu a situação atual do país, onde o pessoal que defende os ideais de esquerda e o pessoal que defende os ideais de direita se enfrentam numa briga ferrenha e muitas vezes irracional. Querendo apenas defender seu lado mostrando o lado ruim do outro. É claro que estou falando dos extremistas...
Diante desse cenário de conflitos ideológicos, o jovem Owen Hardy representa o pensamento crítico. A mente livre que experimentou dos dois polos e parou para analisar, questionar e não apenas escolher uma delas como um cavalo adestrado.
Esse consciência é o ponto alto do livro. Apesar da constante luta por liberdade do anarquista, ele era escravo da estabilidade, pois vivia para destruí-la. E apesar da luta desenfreada do Relojoeiro para que a estabilidade permanecesse intocável, ele era escravo do caos e da imprevisibilidade humana, pois vivia para contê-los.
Entre esses dois extremos, travando uma batalha sem fim, estava a inteligência, a sensatez, o pensamento crítico, representada pelo jovem Owen Hardy:
"Por que devo escolher um lado? Posso ser livre, fazendo minhas próprias escolhas, e viver uma vida estável e plena."
A mensagem que o livro traz é a de que todo e qualquer extremismo é ruim. A razão não é vermelha ou azul, ela é cinza e está no meio termo. Além desses questionamentos sociológicos, temos o ambiente exótico do Steampunk: Alquimia, máquinas fodásticas, humanos mecanizados... enfim, um universo alternativo rico e cheio de tecnologia a vapor.
Se eu indico essa obra? É claro!

Título: Os anjos do tempo | Autor: Kevin J. Anderson & Neil Peart | Editora: Belas letras | Páginas: 304 | Gênero: Ficção científica

Nenhum comentário

Litera Cult | Blog Literário © Copyright 2017. Tecnologia do Blogger.