A crise dos (quase) 30 e o pessimismo de Álvaro de Campos


Passeando por essa internet de meu deus eu me deparei com um post que falava da crise dos trinta anos, esse post tratava especificamente da crise dos trintas anos das mulheres. Nesse post o autor explicava os questionamentos que essa data faz surgir:
A data marca simbolicamente o fim da juventude e o começo irrevogável da idade adulta. Há grandes decisões a serem tomadas. Filhos é uma delas, mas não só. Existe a carreira. As ambições que serão adiadas, esquecidas ou abraçadas. (Ivan Martins, Época)
Eu tenho quase trinta anos, faltam poucos aninhos para essa data que dizem ser tão marcante e confesso que ás vezes fico um pouco assustada. As cobranças por sucesso, estabilidade, vida "moldada" bate em nossa porta e, surpreendentemente, não estamos preparadas para nada disso. Eu sei que não sou a única, mas também sei que muitas estão no ápice do sucesso pessoal e profissional, para essas: meus parabéns!
Hoje, eu já escolhi minha profissão, planejei meu futuro... tanto que parece que ele está petrificado. É como se a possibilidade de mudança, os mil e um caminhos diminuíssem e é aí que vem o questionamento: Será que fiz tudo certo? Será que é isso mesmo que eu quero? Mas que raios! O que eu, realmente, quero? Eu sei o que quero hoje, mas e amanhã?
Eu olho para trás e constato que mudei diversas vezes, mudei os planos, as prioridades, as convicções, mudei eu mesma e fico receosa do que está por vir, pois posso mudar e se eu mudar o que farei da vida, aparentemente, petrificada que construí? Talvez essa seja a tal crise dos trinta anos.
No meio de tantos questionamentos me lembrei de um poema do Álvaro de Campos, Tabacaria, ele é profundo, pessimista e remete a tudo o que sinto e tudo o que poderei sentir caso tenha feito escolhas erradas.
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? Ser o que penso?
Mas penso ser tanta coisa! E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
(Excerto do poema “Tabacaria”)
Álvaro de Campos é conhecido por seus poemas angustiados e incompreendidos. Neles o poeta destaca a solidão interior e suas frustrações. Em tabacaria percebemos as frustrações de um presente infeliz, sendo consequência de um passado errôneo:
O dominó que vesti era errado. Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara, estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho, já tinha envelhecido. 

(Excerto do poema “Tabacaria”)
Meditei muito a partir desses versos e por mais que eu saiba que "o mundo é para quem nasce para o conquistar e não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão", eu conservo o otimismo. Tenho meus sonhos e minhas ambições, sei que podem não ser realizáveis, mas como saber se eu não me arriscar?
Analisando todos os meus receios percebo que a tal crise dos trinta anos nada mais é do que MEDO DO FUTURO, mas como diz meu pai: "ninguém sofre antes do parto". Portanto nesses dias de crises existenciais eu me apego à um trecho do livro O mago de Camelot do Marcelo Hipólito:
O destino é implacável, mas lembre, nós sempre temos escolha. O futuro não está definido. Ele é fluido, incerto, moldado segundo nossas vontades.
Ter medo do futuro é ter medo de viver, portanto se nada der certo eu vou pegar o que sobrou e construir um novo amanhã, pois o nosso destino é moldado de acordo com as nossas vontades. A tal crise? Ah... ela vai passar e dar lugar para outras. Me disseram que ainda tem a dos 40...

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