As 10 melhores leituras de 2017


Mais um ano se inicia e aqui no LC sempre fazemos uma lista das melhores leituras do ano, pois assim vocês ficam por dentro do que lemos e recebem dicas de ótimas leituras! E dicas é sempre bem vinda. Esse ano eu tive o prazer de ler ótimas obras, por isso foi difícil escolher apenas 10, o que já é um número grande se for comparado com os melhores de 2016.
Bom, sem mais enrolação, vamos ao primeiro booklist do ano!!!

10. JANTAR SECRETO, Raphael Montes
Depois de ler 'Dias perfeitos' fiquei interessada pelas outras obras do autor Raphael Montes, como O vilarejo e Jantar secreto. Optei pelo último e foi uma bela escolha. A leitura de Jantar secreto foi agonizante a partir da metade do livro. Nos primeiros capítulos não sentimos o horror ou a repulsa que uma temática como a da obra deve mostrar, mas depois o horror, a indignação e o medo chegam como avalanches e preenchem todo o nosso ser.
A trama é construída gradualmente e a corrupção dos personagens ocorre da mesma maneira: lenta e irreversível. De mesmo modo, o sentimento de repulsa do leitor vem aos poucos. Foi como se eu estivesse dentro da história, passando pelos mesmos problemas dos personagens e, no começo, considerando a hipótese de uma empreitada inocente. Em determinado ponto do livro, eu fiquei horrorizada com o que acontecia, mas não antes. Eu sabia o que era carne de gaivota, eu sabia que aqueles jantares não eram lícitos, mas o autor teve o brilhantismo de me fazer sentir na pele do protagonista, por isso eu só me choquei de verdade quando o protagonista sofreu o choque. Palmas para o Raphael Montes!!!
Diferente da leitura de Dias perfeitos, eu simpatizei com o "vilão". Pude compreender o que o levou a cometer tantas barbaridades. É claro que o que ocorreu foi injustificável e imperdoável, mas o personagem soube se humanizar para contar a história. Acredito que a grande qualidade dessa obra é fazer o leitor sentir empatia por alguém que fez parte de algo hediondo.
Outro ponto positivo da obra é a retratação do nosso tempo, tem até uma conversa de whatsapp com direito a memes! Fico imaginando que a galerinha das décadas posteriores poderão entender como vivemos. O autor retrata nossa sociedade atual fielmente: os sonhos dos jovens, as frustrações, os preconceitos, modo de vida, hipocrisia, corrupção... Está tudo lá, desnudo, sem esteriótipos e mentirinhas do tipo: "Somos hospitaleiros e legais, terra da miscigenação, sem preconceitos e blá, blá, blá".

9. PÉROLAS DA MINHA SURDEZ, Nuccia de Cicco
Comecei esse livro sem saber muito o que esperar. Leio pouquíssimas autobiografias, dá para contar nos dedos de uma só mão as que já li, então, para mim, é um terreno desconhecido.
Lembro que comecei a leitura à noite, assim que minha mãe foi para a igreja, eram umas 19h. As horas passaram, minha mãe chegou da igreja, minhas irmãs chegaram da escola, todas foram dormir e eu continuei lendo. Eu não conseguia parar de ler. Cheguei na última linha por volta das duas horas da manhã, num misto de gratidão e questionamento.
Gratidão pela Nuccia, gente se pronuncia NUTCHIA, ceder um pouco da sua experiência de vida e questionamento pela maneira como eu não incluo surdos ou mudos no meu círculo social. Digo isso pois eu não sei libras e nunca cogitei a possibilidade de aprender. Em algumas postagens aqui no blog, principalmente playlist literárias, eu colocava o vídeo da música sem nem passar pela minha cabeça a possibilidade de eu ter leitores surdos, lembro que apenas uma vez coloquei as letras das músicas. Se, como parte de uma minoria, eu luto para ser incluída, então eu devo ser inclusiva também.
Bom, sobre a narrativa. O livro tem uma linguagem leve, descontraída e extremamente divertida. A Nuccia nos conta sua vida como se estivéssemos em um bate papo descontraído num barzinho, com cerveja e porção de batata frita. Eu dei altas gargalhadas, principalmente na parte do cachorro que fingia que latia para ganhar biscoitos. Hilário!!!
Além dos momentos de divertimento, tiveram os momentos de inspiração: Que mulher! Senta comigo no recreio? rs A autora nos passa lições de superação. Ela não perdeu a alegria de viver e lutou para não perder o que gostava de fazer, como a dança. Ela compartilhou conosco como foi para ela a descoberta de viver o silêncio no dia a dia e como, segundo ela, ainda está se adaptando.

8. A RAINHA EXILADA, Cinda Williams Chima
A rainha exilada é o segundo livro da série Os sete reinos. Eu amei a série, mas como só podia escolher um dos quatro livros para esse booklist, o vencedor foi esse.
Nesse segundo volume a autora se aprofundou em muitos assuntos que não foram abordados no primeiro volume, um dele é a magia. Fiquei encantada com Vau de Oden, uma espécie de cidade universitária da magia. Somos apresentados, também, a novos conflitos e muito mistério. Foi maravilhoso acompanhar o desenvolvimento de Han e os conflitos internos de Dançarino.
Raissa me surpreendeu por sua força, ao contrário do que se esperava de uma princesa, ela sabe sobreviver as dificuldades e não se abate pela falta de luxo. Ela é uma personagem destemida, uma verdadeira rainha.
Os personagens secundários também roubam a cena. Apesar da minha antipatia pelos irmãos Bayer, eles são complexos e possuem uma personalidade intrigante. Não sabemos o que esperar de Micah, no POV da Raissa ele se mostra de uma forma, no POV do Han de outro e o leitor fica intrigado, pelo menos eu fiquei. Por falar em personagens coadjuvantes, como não amar os cadetes de Amon? Os jovens corajosos responsáveis pela proteção da linhagem Lobo Gris são encantadores.
As descrições dos locais são maravilhosas, ouso dizer que a autora até se superou nesse quesito.
No geral, A rainha exilada é um livro cheio de mistérios, intrigas, cenas de tirar o fôlego e viciante. Eu li em poucos dias e quando cheguei na última linha sofri por não ter a continuação a disposição naquele exato momento.

7. TRASH, Andy Mulligan
Ao ler esse livro eu quebrei uma regra literária pessoal: Nunca assistir a adaptação antes de ler o original. Eu conheci a obra através do filme nacional de mesmo nome, Trash. Mais uma vez o livro superou o filme em todos os aspectos.
A obra conta a história de três garotos do lixão de Behala que encontram uma bolsa contendo documentos, dinheiro, uma chave e um mapa. Após encontrarem a bolsa uma comoção toma conta do lixão, pois pessoas influentes começam a revirá-lo a fim de encontrar uma bolsa perdida. Imediatamente os garotos percebem que o conteúdo da bolsa é importante e decidem descobrir o que há por trás de tudo o que está acontecendo.
A história do livro em si é frenética, cheia de reviravoltas e muita ação. Nada muito diferente do que encontramos por aí quando o assunto é investigação policial. O que torna esse livro tão especial é a narrativa dos personagens e a visão crítica que eles possuem, mesmo sendo crianças. Essa visão crítica se dá pelo amadurecimento precoce deles, já que precisaram enfrentar esse mundo de deus como adultos. Outro aspecto positivo da obra é a abordagem da corrupção na política e, consequentemente nos órgãos estatais.
Apesar de tratar de temas "pesados" a leitura é leve e dinâmica, quando percebemos as 221 páginas foram embora e o gostinho de quero mais toma conta.

6. O SENHOR DAS MOSCAS, William Golding
Terminei a leitura de O senhor das moscas num misto de indignação e impotência. Esses dois sentimentos também me atingiram quando li Sob a redoma do Stephen King, mas dessa vez com uma intensidade muito mais esmagadora. Isso porque se tratando de Sob a redoma temos seres humanos já formados e associamos a maldade apenas ao ambiente hostil e não propriamente à natureza humana, não que ela não tenha parte nisso, mas não desponta como protagonista.
Na obra de William Golding nos é esfregada na cara, sem cerimônia, a raiz de todo o mal, e essa raiz existe no coração humano desde a mais tenra idade. Ela está lá, pronta para emergir na primeira oportunidade, corrompendo uma aparente inocência.

Se formos analisar a ética aristotélica, vemos que a moral é ensinada. Como diz Karnal em sua palestra "Civilização e Barbárie", somos condicionados a agir com civilidade, não nascemos com ela. Daí o brilhantismo da obra de William Golding ao mostrar a natureza da maldade humana em crianças, pois é sem os filtros éticos e morais que ela aparece em sua totalidade: Nua, crua, fria, cruel.
No decorrer da narrativa, o autor mostra a decadência humana de forma simples e precisa. Foi perturbador observar o declínio da civilidade e o florescimento da barbárie.

O senhor das moscas é uma obra que precisa ser lida com uma concentração extrema para que  seja apreciada nos mínimos detalhes. Ela é cheia de simbologia, como a concha, que representa a constituição e a democracia. Sem a concha a civilidade fraca estará perdida e dará espaço para a selvageria. Por isso a preocupação do Porquinho em preservá-la.
Vi muitos associarem essa obra ao drama ou ao terror, por conta dos sentimentos que ela produz no leitor. Porém eu a considerado bem mais próxima da distopia.

5. O NOME DO VENTO, Patrick Rothfuss
Antes de cogitar ler esse livro eu já ouvia falar dele. A maioria dos blogs que eu sigo faziam resenhas maravilhados, os booktubers falavam e falavam do quanto Patrick Rothfuss era brilhante, até o Martin disse que ele era bom. Então, eu tive que me render e colocá-lo na minha meta de leitura de 2017. Apesar dele estar ali, na minha meta de leitura, piscando e pedindo para ser lido, eu demorei meses para tirá-lo da estante. Um grande erro, pois ao ler as primeiras páginas me apaixonei e não pude largá-lo até o ponto final.
O nome do vento é o tipo de fantasia que te prende do início ao fim, pois temos a jornada do herói para nos instigar. Diferente de outras sagas do herói, neste, sabemos o desfecho, pois além da narrativa ser baseada nas memórias do protagonista, no título da saga sabemos que ele será o matador do rei. Por esse motivo, a trama se sustenta na saga do herói e não no provável destino do herói.
A trama é cheia de reviravoltas e situações de tirar o fôlego, acompanhamos o protagonista desde a infância com a família até seu ingresso na universidade para ser arcanista. Mas, de um ponto a outro tem um mundo de sofrimentos para atravessar.
Essa obra despertou em mim diversas emoções: indignação, empatia, raiva, triunfo, perplexidade... Enfim, eu sorri, vibrei, amei e sofri com o protagonista, ou seja, o autor soube me inserir na obra de maneira muito profunda.
Outro ponto positivo, é a escrita do autor. Ela é fluida, sedutora e intensa. Fiquei encantada, primeiro porque gosto de muito descrição, segundo porque amo a poesia dentro do romance: Li como se assistisse um pintor criar uma obra de arte pincelada por pincelada... foi fascinante. Além disso, preciso destacar a complexidade do mundo criado. Existem tantas nuances que em um só livro eu não pude captar todas elas. Por esse motivo, estou ansiosa para ler O temor do sábio, a continuação de O nome do vento. 

4. SANDMAN  - CAÇADORES DE SONHOS, Neil Gaiman & Yoshitaka Amano
Sandman, Caçadores de sonhos foi inspirado em um conto japonês chamado: A raposa, o monge e o Mikado. Neil Gaiman estudava mitologia japonesa quando foi apresentado à esse conto, foi então que percebeu uma grande semelhança com o universo de Sadman. Assim, juntou-se ao artista Yoshitaka Amano e criou essa obra maravilhosa que hoje trago minhas impressões para vocês.

A obra se passa em um Japão místico, onde a realidade e a fantasia se fundem, é nesse cenário que nossa história começa. Uma raposa e um texugo apostam em quem conseguirá expulsar um monge de um templo antigo. Com essa missão eles colocam seus planos em prática, mas falham. Dessa empreitada surge um improvável amor: puro e abnegado. Porém, o objeto desse amor é ameaçado, pois um senhor, inescrupuloso, recorre à forças demoníacas para alcançar um objetivo cruel e egoísta.

Eu nunca tinha lido um conto japonês, confesso que estava receosa, pois não sabia o que esperar da obra. Para o meu deleite, Neil Gaiman me transportou para um universo mágico, cheio de amor, fé e mistérios. Pude retirar dessa obra lições de confiança, sacrifício e consequências desastrosas da cobiça. É um livro que deve ser lido por quem ama a escrita do Neil Gaiman e para quem gosta da atmosfera dos contos japoneses.
A arte de Yoshitaka Amano é um show a parte. Fez com que a a experiência da leitura fosse intensificada. Essa graphic novel é viciante, portanto pode ser lida em algumas horas. Isso se deve a fluidez da escrita do Neil Gaiman e ao encantamento das ilustrações de Yoshitaka Amano.

Não irei falar mais sobre a obra para não dar spoiler e destruir o desenrolar da história para quem ainda irá ler. É um universo que vocês devem trilhar sozinhos.

3. O ILUMINADO, Stephen King
Eu enrolei muito para ler esse livro, apesar das inúmeras indicações e apesar de eu ter amado todos o livros que li do autor. Eu simplesmente deixava para depois e para depois... Então, coloquei a obra na minha meta de leitura de 2017. Como sempre, posterguei a leitura. Mas, em novembro tomei vergonha na cara e tirei O iluminado da estante! Foi a melhor coisa que fiz.
Esse livro cresce conforme a obra, por esse motivo o leitor sente a apreensão dos personagens conforme o tempo vai passando e as possibilidades de escape vão se extinguindo. Fiquei apreensiva durante boa parte da narrativa e desesperada com "os finalmentes". Se eu fosse classificar a obra, diria que se trata de um suspense e não de uma obra pura de terror, pois a apreensão até a culminação do ato final é o que sustenta a obra. Mais uma vez Stephen King me conquistou. Amei a leitura e pretendo reler em breve.

2. LIGAÇÕES PERIGOSAS, Choderlos de Laclos
Ligações perigosas é um romance epistolar publicado em 1782 pelo francês Choderlos de Laclos. Na época de seu lançamento esse livro foi considerado um escândalo. Tanto que podemos perceber a indignação pública na nota do editor, que afirma categoricamente que "os personagens são caracterizados por tão maus costumes que é impossível supor que tenham vivido em um século onde a filosofia e as luzes espalhadas por toda parte, tornaram tão corretos os homens e tão honradas e recatadas as mulheres", ahã... sei, senta lá.
Esse é o primeiro livro escrito em cartas que eu leio e preciso confessar que estava receosa quanto a leitura. Temia que não houvesse um bom desenvolvimento, que a narrativa fosse monótona e que não houvesse momentos de ápice. Porém, por ser uma obra aclamada ainda nos dias de hoje, pensei que esse fato deveria ter um fundamento e esse fundamento deveria estar na escrita de Choderlos de Laclos. Agora, escrevendo essa resenha, percebo o quanto eu fui feliz nessa escolha. Ligações Perigosas está longe de ser uma obra monótona, somos bombardeados a todo momento por intrigas, reviravoltas, manipulações e algumas ironias da sociedade que, apesar de ter sido escrita baseada na aristocracia do século 18, dialogam com a atualidade.
Preciso possuir essa mulher, para evitar o ridículo de apaixonar-me por ela: pois até onde não nos leva um desejo contrariado? Ó delicioso gozo! Imploro-lhe para a minha felicidade e, sobretudo, para o meu sossego.
Os principais discursos da obra são a sedução, o poder, a manipulação e, como diz a Marquesa de Merteuil, uma das protagonistas, mostrar como os líderes do mundo moldam os acontecimentos ao seu bel prazer. Com o poder de manipular vidas em mãos, os protagonistas tecem o destino de pessoas que eles julgam fracas, destruindo e construindo reputações segundo suas vontades, sem se importar com seu semelhante. Conceitos que seriam discutidos por Freud tempos depois.
Outro aspecto positivo do livro são as referências literárias utilizadas pelos personagens, pude me deliciar com citações de obras que eu não conhecia e tirar delas reflexões que levarei para a vida, como o cuidado com as relações que mantemos ao nosso lado.
 Os tolos estão neste mundo para nossos pequenos prazeres.
~ Gresset, O malvado (verso citado pela Marquesa de Merteuil)
1. O ALIENISTA, Machado de Assis
O alienista é uma obra machadiana, ou seja, um clássico do nosso amado Machado de Assis. A edição que eu li foi em quadrinhos. Não sei quanto ao romance, mas a história em quadrinhos é fluida, envolvente e perturbadora, muitas vezes cômicas. Consegui ler diversas críticas à nossa sociedade, uma delas é a forma como o povo é manipulado para que alguns consigam alcançar suas ambições pessoais. Machado de Assis também faz uma sutil crítica ao favorecimento pelo status social.
Quanto ao protagonista da obra, é um personagem um tanto quanto peculiar. Em sua paranoia em curar a loucura, ele excede os limites do razoável e leva uma cidade interiorana ao caos. Seguindo uma lógica perturbada, o alienista trancafia pessoas que se encaixe em sua teoria de loucura e essa teoria muda conforme suas reflexões, sim, temos o caos.
Machado de Assis conseguiu, mais uma vez, me surpreender. De forma genial ele fez duras críticas à sociedade da época, crítica essa que remete ao nosso tempo atual. O autor passeia pelas consequências dos atos do Alienista, que traz um motivo para que bandeiras sejam levantadas. O povo, então, se torna joguete de pessoas que desejam tudo, menos o desejo do povo.
Terminei a leitura pensando na nossa situação política atual e me questionando se eu, também, não sou um joguete nas mãos de pessoas que levantam uma bandeira em prol de seus próprios benefícios, sob a alegação de ser pelo povo.
Eis meu questionamento e eis minha devoção por mais uma obra machadiana por ter feito com que eu levantasse esses questionamentos.

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